Você já ouviu o que é a transformação digital. Que tal conversarmos um pouco sobre o que ela não é?
Os gerentes de TI podem ser perdoados por sentirem-se pressionados para transformar digitalmente suas organizações.
Acadêmicos e empresas de pesquisa estão convencidos de que as organizações podem melhorar radicalmente seu desempenho e identificar novas áreas de negócios aplicando estrategicamente as tecnologias digitais aos seus processos organizacionais e operacionais.
No entanto, apesar de todo o hype e de décadas de investimentos em infraestrutura de TI, poucas empresas dizem ter atingido o estágio desejado.
Dos 196 gerentes de TI, diretores e executivos que responderam ao COMPUTERWORLD Tech Forecast 2017, apenas 11% disseram já estar 100% digitais, 40% ‘bem em seu caminho’, o que significa ter mais de metade da organização já na Era Digital, e 49% “a menos da metade do caminho”. E mais da metade desses mesmos executivos, quando solicitados a dar uma nota para os esforços de sua organização em prol da Transformação Digital, deram-se um C ou uma letra menor.
Os analistas e a diretoria executiva têm anunciado a ideia de que todas as empresas devem se transformar em empresas digitais para se manterem competitivas. Mas determinar o que a Transformação Digital significa para qualquer organização, estabelecer um roteiro para chegar lá e, em seguida, conseguir um nível significativo de transformação não são feitos pequenos.
Para reverter a mudança organizacional que a transformação exige, as empresas e a liderança de TI são susceptíveis a enfrentar em uma série de desafios – de orçamentos que restringem o quanto podem conseguir, até a falta de habilidades de TI necessárias para iniciativas com tecnologia. Inclusive, esbarrar em inúmeros equívocos sobre o que a Transformação Digital é, de fato, e o que ela requer. Para esclarecer essa confusão e repor as expectativas, a COMPUTERWORLD pediu a vários CIO experientes e analistas da indústria que apontassem cinco mitos mais comuns em torno da Transformação Digital.
Mito 1: Transformação significa reformar completamente o negócio
“A Transformação Digital não significa que você precise se tornar uma empresa online”, diz Larry Wolff, presidente e diretor de operações da Ouellette & Associates Consulting, também um ex-CIO. Em vez disso, ele diz, a Transformação Digital significa “aproveitar a tecnologia não apenas para eficiência e eficácia, mas para transformar o negócio e permitir novas oportunidades. Não muda fundamentalmente o negócio em que você está, mas o petencializa”.
Wolff diz que a verdadeira transformação digital não é necessariamente sobre se tornar uma empresa completamente diferente, mas sim usar a tecnologia para melhorar e expandir os principais pontos fortes do negócio. “É uma peça ofensiva para criar uma vantagem competitiva e, ao mesmo tempo, um jogo defensivo que o impedirá de ficar obsoleto”, acrescenta.
Mito 2: A transformação digital é um projeto específico ou uma iniciativa única
Líderes de TI dizem que não definem a “transformação” como o término bem sucedido de uma implementação específica da tecnologia ou a conquista de um marco estratégico. A transformação é um processo contínuo para colocar todas as peças certas no lugar, remover tecnologias legadas obsoletas, explorar o que é novo e investir nas tecnologias em evolução para manter suas organizações competitivas.
Pegue o setor bancário, que sofreu uma transformação digital passando de um sistema de caixa e talões de cheque para uma experiência digital quase onipresente, que possibilita às pessoas transacionar dinheiro através de smartphones.
Essa jornada pode parecer revolucionária, mas Paul Willmott, co-líder global digital da McKinsey, ressalta que a transformação aconteceu através de múltiplos passos incrementais ao longo de quase duas décadas.
“Essas mudanças levam tempo, nada disso acontece durante a noite”, diz Willmott.
O CIO DA Hitachi Data Systems, Renée McKaskle, diz que a transformação de uma empresa de hardware para uma empresa de soluções de TI mais ampla está em andamento. E significou tirar proveito da computação em nuvem, construir as capacidades de internet da empresa e, agora, investir em Inteligência Artificial e a robótica. Essas novas tecnologias ajudarão as várias equipes da empresa a acessar os dados de que precisam para gerar decisões inteligentes.
“Há um platô em que você pode descansar, mas você nunca para. E o tempo de descanso é muito mais curto”, diz ela.
Mito 3: É possível transformar digitalmente o negócio, sozinho
Não! Você não pode fazê-lo sozinho.
“Muitas vezes, a Transformação Digital é conduzida pela organização de TI. Mas ainda há um nível de receptividade no negócio [liderança], muito importante. É aí que a TI tem que criar credibilidade e respeito para obter o respeito das outras áreas e liderar a organização”, Diz Wolff. “Os líderes de TI precisam educar e informar”.
A Ouellette & Associates, que desenvolveu a Curva de Maturidade da TI com base em um estudo de um ano com o Babson College , lista quatro estágios pelos quais as organizações devem passar: prestação de serviços básicos e soluções confiáveis nos estágios 1 e 2; a oferta de valor comercial como parceiro estratégico no estágio 3; chegando a ser um “antecipador” da inovação no estágio 4.
Wolff diz que aqueles no estágio 4 são capazes de transformar suas organizações porque têm a visão estratégica, visibilidade e o respeito de sua organização e a capacidade de vender sua visão de como suas organizações podem ser. Eles não são os convidados para a primeira reunião – eles são os organizadores dessa reunião.
Mito 4: A área de TI pode ser adaptar aos poucos
Os CIOs que desejam transformar suas organizações precisam ter visão, mas as grandes ideias não irão longe se a infraestrutura necessária e os conjuntos de habilidades adequados para implementar sua estratégia não estiverem presentes.
Larry Freed, CIO da Overhead Door, em Lewisville, Texas, diz que durante seu mandato de seis anos ele testemunhou sistemas legados e abordagens desatualizadas que dificultam a empresa em suas habilidades para melhorar a experiência do cliente e oferecer qualidade usando as tecnologias integradas críticas nessa Era digital.
Na opinião de Freed, as fases iniciais da transformação tecnológica dizem respeito à condução de melhorias de processos e ao aumento da eficiência e da produtividade. Freed enfatiza que construir uma base melhor ao longo dos últimos anos foi fundamental para avançar, criar melhores experiências de clientes e abrir novas oportunidades para transformar a empresa de 96 anos.
Só depois da cara arrumada é possível Investir na tecnologia certa permitirá que a empresa colete e analise os dados necessários para gerar oportunidades de negócios.
“Estamos em um ambiente muito competitivo, e se não fizermos investimentos para melhorar, nossos concorrentes o farão”, diz ele.
Analistas, conselheiros e CIOs que ajudaram a transformar suas organizações concordam que é preciso ter os blocos de construção adequados para mudar o poder. Eles precisam sair do legado, adotando tecnologias mais novas, como recursos em nuvem e Analytics, empregando trabalhadores tecnológicos que podem pensar de forma criativa sobre soluções empresariais, e desenvolver uma cultura que se mova tão rápido quanto as empresas e seja capaz de assumir riscos através do DevOps e princípios organizacionais semelhantes.
Muitas áreas de TI ainda não estão neste nível, segundo os analistas.
“A transformação digital “implica focar na própria tecnologia, e acho que é aí que as pessoas podem ter um papel preponderante”, diz Seth Robinson, diretor sênior de análise de tecnologia do grupo da indústria CompTIA . “Essas questões são pertinentes, mas também é preciso investir também na capacidade de pensar além da aquisição de tecnologia. Parte do jeito que você chegará lá passa por garantir que você tenha uma boa alfabetização tecnológica, então quando a nova tecnologia entrar, você terá pessoas prontas para lidar com o novo.”
A maioria das organizações se dá notas baixas nesta área. Quando perguntados sobre os esforços em direção à transformação digital, apenas 6% dos inquiridos se avaliou com um A, observando que estão à frente da curva. Outros 39% deram-se um B; 39% C, por manterem o ritmo, apesar de alguns obstáculos; 11% D, por o processo não está indo bem; e 5%, um F por não terem feito nenhum progresso.
Mito 5: O papel do CIO está garantido, porque a transformação digital depende da tecnologia.
Sim, a tecnologia dirige a Transformação Digital. No entanto, a Deloitte descobriu que muitos CIOs não estão prontos para exercer o seu papel nessa jornada. Por isso, a Deloitte divide os CIOs em três categorias: a primeira é do operador de confiança, onde o CIO dirige um jogo de eficiência tradicional; depois vem o co-criador de negócios, onde o CIO é mais um estrategista e se alinha com a liderança; e a terceira é o instigador da mudança, onde o CIO lidera a transformação. “Uma porcentagem significativa de CIOs ainda está naquela primeira categoria”, diz ele, acrescentando que os líderes de TI, no entanto, devem perseguir estar na terceira.
Os CIOs precisam ser visionários, caso contrário, eles serão encarregados de lidar com o encanamento, enquanto suas empresas criam novas posições (nomeadamente o papel deDigital Officer) para lidar as áreas capazes de impulsionar a transformação.
Não deixe isso acontecer, diz Scott Strickland, CIO global da Denon + Marantz Electronics , fabricante de equipamentos de áudio e vídeo.
“Se você está sentado com o negócio, o desenvolvimento de produtos, marketing e vendas, e você está trazendo para eles o estado da arte para proporcionar o uso da tecnologia para fazer as coisas de forma diferente, então você ganhou. Caso contrário, corre o risco de ser afastado do centro decisório”, diz ele.
Como outros CIOs, Strickland diz que sua área de TI se transformou ao longo do tempo, implementando uma gama de tecnologias de ponta. Esses investimentos em andamento, diz ele, têm sido fundamentais para mudar radicalmente o serviço ao cliente e o desenvolvimento de produtos.
Ele aponta especificamente para o aumento da Internet das Coisas. A maioria dos produtos da sua empresa está habilitada para IoT, então, quando os consumidores os compram e os inicializam em casa, eles também podem registrá-los facilmente. Por isso, diz Strickland, a empresa agora tem uma conexão com esse cliente – um relacionamento que não era possível no passado quando, os clientes lidavam apenas com varejistas vendendo o equipamento.
Strickland descreve como a TI e a IoT, em particular, transformaram o que a empresa pode oferecer, apontando para um problema recente com um produto de consumo. Um dos seus altofalantes HEOS desenvolveu uma questão de memória. Aproveitando os recursos de IoT incorporados aos alto-falantes, a empresa conseguiu fazer um teste para todos os seus produtos nessa linha – mesmo aqueles que já estavam vendidos e nas casas dos clientes. Este teste identificou cerca de 300 alto-falantes que precisavam ser substituídos. Strickland diz que a empresa entrou em contato com os clientes, alertando-os para o problema e enviando-lhes substituições antes que os próprios clientes já tivessem experimentado um problema.
Na verdade, o estudo Global Digital IQ Survey, da PwC , divulgado em fevereiro de 2017, descobriu que, de 2.216 líderes de TI e de negócios de 53 países, apenas 52% classificavam seu coeficiente Digital como forte. Índice menor do que o dos útimos dois anos: 67% em 2016 e 66% no ano anterior.
A PwC, que define o índice dogital digital como “habilidades de uma organização para aproveitar e lucrar com a tecnologia”, reconhece que a tarefa não é fácil.
Fonte: CIO
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